Conceição Evaristo: A Primeira Autora Negra no Acervo da Casa de Rui Barbosa

Na última quarta-feira (13), um marco histórico para a literatura brasileira foi alcançado: a premiada escritora Conceição Evaristo tornou-se a primeira autora negra a integrar o acervo do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB) da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Com um gesto carregado de significado e emoção, Evaristo doou seu acervo, que agora se junta a mais de 150 arquivos de escritores renomados, como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Cruz e Sousa.  

Criado em 1972, inspirado pelo próprio Drummond, o AMLB guarda cartas, manuscritos e documentos pessoais de grandes nomes da cultura brasileira. A inclusão de Conceição Evaristo nesse espaço vai além do reconhecimento de sua obra; é um símbolo de representatividade e abertura de caminhos para autores e autoras negras.  

Em sua fala, Conceição destacou a importância desse momento:  


> “Estou orgulhoso de ser a primeira escritora negra a ter um acervo na Casa, mas espero que não seja a única. Esse processo pode e deve ser aprofundado. Que esse meu momento de acolhimento pela Casa realmente possa ser um momento de acolhimento para outras escritoras, para outros, para outros artistas.”  


O Legado de Conceição Evaristo 

Conceição Evaristo, nascida em 1946, em Belo Horizonte, é uma das vozes mais potentes da literatura contemporânea. Com sua escrita relacionada de memória, resistência e luta, a autora é responsável por obras como Ponciá Vicêncio e Olhos d'Água , que dão voz às experiências das mulheres negras e periféricas no Brasil. Sua trajetória é marcada por um conceito que ela mesma cunhou: a "escrevivência", que coloca a vivência do corpo negro no centro da narrativa, rompendo silêncios históricos e culturais.  


Seus textos são profundamente poéticos e políticos, interligando questões sociais com experiências pessoais, e conquistaram reconhecimento nacional e internacional. Em 2018, foi agraciado com o Prêmio Jabuti por Olhos d'Água e também concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL), uma candidatura que por si só já foi histórica.  


Representatividade Importa  

O gesto de Conceição Evaristo transcende a preservação de seu legado. Ao ser a primeira autora negra no acervo da Casa de Rui Barbosa, ela reforça a importância da inclusão de vozes negras em espaços de prestígio cultural. Para além do orgulho individual, o que um autor nos oferece é um convite à transformação, um chamado para que a literatura brasileira, em todas as suas instituições, seja mais diversa e representativa.  

A presença de Conceição nesse espaço é, como ela mesma destacada, uma perspectiva: um ponto de partida para que outros artistas negros e negras ocupem esses lugares de memória e poder.  


Um Marco de Esperança  

Enquanto celebramos esse avanço, é essencial que nos lembremos de que ainda há um longo caminho a ser percorrido. A literatura brasileira precisa abraçar cada vez mais a pluralidade de suas vozes e histórias. Que o exemplo de Conceição Evaristo inspire outras instituições a revisarem suas práticas e a acolherem a riqueza cultural de uma nação tão diversa quanto o Brasil.  


Para nós, leitores e admiradores, a obra e a história de Conceição Evaristo nos lembram que a escrita tem o poder de transformar, representar e resistir. Sua presença na Casa de Rui Barbosa é um marco, mas, mais do que isso, é um lembrete de que, juntos, podemos ampliar horizontes e construir um futuro mais justo para as próximas gerações.  


Que venham muitas outras Conceições, com suas escritas, histórias e coragem, para ocupar os espaços que sempre foram delas.  

Fonte:  Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil

Disponível em:  https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2024-11/conceicao-evaristo-e-primeira-negra-doar-obra-casa-de-rui-barbosa


Fonte: https://i.pinimg.com/1200x/60/ac/9c/60ac9c77b32cb107cf21db2549713bca.jpg


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